A Expressão Artística no Paisagismo: O equilíbrio entre a Visão do Criador e a Realidade do Espaço
Ainda que paisagismo e arquitetura sejam frutos de um gesto criativo, essas atividades são distintas das que a criação é pura vontade do artista. Nessas atividades, a expressão individual do criador está a serviço de um terceiro, e se entrelaça com as necessidades e expectativas dos usuários, também influenciada e em um diálogo constante com a paisagem.
Ambas as disciplinas se aproximam no objetivo central de ordenar o espaço de forma a atender às necessidades humanas e, ao mesmo tempo, tecer significados, criar narrativas e evocar emoções. Na prática, atendem a terceiros, a suas demandas e desejos objetivos dentro dos limites impostos pela realidade, sob uma camada expressão artística, que se manifesta através da leitura, compreensão e interpretação da realidade amalgamadas em um gesto criativo individual.
Arte Aplicada: A Funcionalidade como Guia
A expressão artística no paisagismo não é, portanto, completamente livre, como em muitos outros campos da criação humana. O paisagismo, por ser uma arte aplicada, está submetido ao mundo real e às necessidades do(s) usuário(s). Arquitetos e paisagistas não criam para si mesmos, mas sim para outras pessoas, as que irão utilizar o espaço, que esperam ver atendidas suas próprias expectativas e necessidades.
Essa funcionalidade implícita impõe algumas pré-condições que o paisagista deve atender. É preciso em primeiríssimo lugar que o espaço objeto de seu trabalho existe no mundo real, em um determinado contexto, em uma determinada cultura e que faze parte de uma paisagem. Que esse espaço tem limites objetivos, ao mesmo tempo que tem vocações, tem virtudes, tem uma série de características físicas intrínsecas e relacionais que condicionarão a abordagem do projetista.
Obviamente, há que se considerar também como o espaço objetivamente irá funcionar, como as pessoas irão se sentir, quais atividades serão realizadas ali, como abrigar e atrair essas atividades. O paisagista, portanto, deve apoiar sua visão artística na comunhão entre as características do espaço propriamente dito e as necessidades práticas do usuário, num gesto criativo em que o conteúdo simbólico e sensorial se alinhem com as necessidades práticas e os desejos de terceiros.
A Interpretação do Cliente: Quando a Visão do Artista Encontra a Expectativa do Usuário
O paisagista não cria a partir de sua própria ideia, para si, mas a partir de sua interpretação do que o cliente necessita, aprecia e deseja. Esse aspecto está diretamente ligado à sua experiência pessoal, à sua visão de mundo e à sua cultura – necessariamente distintas, em maior ou menor grau, da visão e experiência do projetista. É uma dança delicada entre a experiência e a visão do criador e a expectativa do usuário, cujo objetivo é criar um espaço que reflita a identidade e valores desse usuário, mas necessariamente filtrada pela percepção de quem o projetou.
Essa interpretação do cliente exige sensibilidade, empatia e capacidade de comunicação. A base do trabalho de arquitetos e paisagistas é ouvir o cliente, entender suas necessidades e desejos, e traduzi-los em forma de projeto.
É baseado nessa leitura que o paisagista estrutura espaços e manipula os elementos do ambiente para criar tensão ou relaxamento, impacto ou delicadeza – percebendo a pertinência e oportunidade de cada sensação – convidando o usuário a uma experiência sensorial e emocional única.
Responsabilidade com a Paisagem: Um Diálogo com o Entorno
Por fim, mas não menos importante, a expressão artística no paisagismo também está sempre submetida à responsabilidade com a paisagem. O paisagista não pode ignorar o contexto em que está inserido, devendo considerar o impacto e a contribuição de sua intervenção no entorno.
Essa noção de responsabilidade com a paisagem exige investigação, conhecimento, sensibilidade e respeito. O paisagista deve saber reconhecer as características do lugar, entender seus potenciais e limitações, e propor soluções que sejam benéficas para o conjunto da paisagem.
Comunicação, Emoção e Discurso: A Linguagem Silenciosa do Paisagismo
Apesar de todas essas condicionantes parecerem limitantes, são elas a força inspiradora que move cada projeto. E sempre há espaço para a identidade do paisagista se manifestar. A sua visão de mundo, os seus valores filtram a realidade e, através da linguagem, do traço e da sua abordagem baseada em sua vivência pessoal única, criam uma marca, uma forma de expressão individual que se desenvolve a cada projeto.
Cada profissional possui uma bagagem pessoal, formada por suas próprias experiências, vivências, viagens e impressões. Nasce daí a capacidade de comunicar ideias e emoções através do espaço. Essa bagagem forma seu repertório, e alimenta sua capacidade propositiva, permitindo-lhe interpretar o espaço e as necessidades do cliente de forma única, original e criativa.