A concorrência crescente no mercado profissional, em um mundo que parece cada vez mais acelerado, competitivo e instagramável, parece gerar uma busca pelo gesto criativo surpreendente como forma de encontrar uma posição de destaque para arquitetos, designers de interiores e paisagistas. Ao mesmo tempo, o avanço da tecnologia proporciona novas formas de criação, que parecem hiper-realistas, mediadas por ferramentas de modelagem eletrônica em um espaço virtual neutro, e acabam favorecendo a visão do projeto arquitetônico como algo isolado, confinado aos limites de um lote.
O verdadeiro desafio do arquiteto não é encontrar uma solução original, chamativa ou extravagante, dentro de um retângulo vazio, mas sim criar um espaço que estabeleça uma relação intencional com a paisagem, que dialogue com o entorno e que enriqueça a vida e a experiência das pessoas.
Projetar de forma descontextualizada é uma maneira de interferir na paisagem que se mostra cada vez mais inadequada. Projetar vai muito além de simplesmente ocupar um espaço vazio com uma construção. É preciso considerar o contexto, a identidade da paisagem, a história e a experiência das pessoas – de tudo o que impactará a existência da nova edificação e será impactado por ela.
A Paisagem como Dado de Realidade: Além dos Limites do Lote
A primeira premissa dessa nova visão é que não existe projeto em um vácuo – assim como não existe terreno “ideal”. Todo lugar, todo lote, está inserido em um contexto paisagístico preexistente, que precisa ser considerado como um dado de realidade.
E esse contexto não se limita ao que está dentro dos limites da propriedade. A casa do vizinho, a vista para o mar, a presença de uma avenida movimentada, eixos, direções, fluxos, vistas, identidades, narrativas simbólicas podem ser pré-existentes e são elementos que influenciam o projeto e que precisam ser levados em conta.
Ignorar esses elementos é como cozinhar sem conhecer os ingredientes, nem as preferências e sensibilidades de quem efetivamente se servirá da refeição. O resultado será um projeto desconectado, artificial e, no limite, inadequado.
Abrace a Complexidade: A Paisagem como Desafio e Inspiração
A paisagem não é um obstáculo a ser superado, mas sim um parceiro a ser valorizado. Ao trabalharmos em harmonia com o contexto, podemos criar espaços que são ao mesmo tempo belos, funcionais e sustentáveis, plenos de identidade e significado.
Reconhecer um contexto paisagístico complexo pode parecer um desafio, mas também pode ser uma fonte de inspiração. Ao abraçarmos a complexidade, ao invés de tentarmos ignorá-la, podemos criar projetos mais ricos, mais interessantes e mais relevantes.
A Experiência Contínua: Um Eterno “Dentro” da Paisagem
Para criar espaços que realmente enriqueçam a vida das pessoas, é preciso ter um olhar estruturado sobre a paisagem. Não basta simplesmente fazer edifícios chamativos, quando se é arquiteto, ou adicionar plantas e flores, quando se é paisagista. É preciso compreender a essência do lugar, a sua história, a sua cultura, a sua identidade. É preciso compreender as pessoas, como se relacionam com os espaços e como são afetadas por eles. É preciso unir espaço e pessoas em um só projeto coerente.
O centro dessa maneira de conceber é a importância da experiência do usuário. Ao contrário da arquitetura como projeto de edificações, na visão paisagística não é possível “sair” da paisagem e admirá-la externamente. A paisagem é uma experiência contínua e imersiva, um eterno “dentro”, uma interconexão espacial que abrange até mesmo os espaços interiores da edificação.
Isso significa que cabe ao arquiteto pensar em como as pessoas irão perceber e se mover pelo espaço, como elas irão interagir com os elementos naturais e construídos, como elas irão se sentir, como vão reconhecer e narrar sua experiência.
Não existe apenas uma resposta, um certo e um errado. Há uma conversa, um aprendizado. Um exercício contínuo para desenvolver a capacidade de leitura espacial, de percepção do mundo, de sensibilidade com as pessoas. Para garantir que a decisão seja consciente e informada – de forma a embasar as intenções projetuais do arquiteto ao atuar como intérprete e recriador da realidade.